domingo, 15 de maio de 2011

Na FAMÍLIA HIGH-TECH ,todo mundo é uma ILHA

As pessoas estão vivendo “ilhadas” dentro de suas próprias famílias. Super-equipadas, as casas de classe média se tornam aglomerados de pequenos hábitats high-tech. Muitas casas já aboliram a mesa de jantar – considerada “objeto obsoleto” -, têm uma TV para cada membro da família e um telefone por cômodo.
A dona-de-casa, ou empregada, não prepara mais um jantar, mas uma espécie de bandejão caseiro: várias bandejas de composições diferentes que são esquentadas no microondas à medida que cada um chega em casa.
Nas classes sociais mais abastadas está surgindo uma forma de relacionamento familiar. Pesquisas sociais mostram que nas famílias abonadas, que têm condições de manter, por exemplo, vários aparelhos de TV, os filhos assistem a um mesmo programa de TV, mas cada um em seu quarto. Às vezes, eles se encontram no corredor e comentam uma cena da novela.
Por um lado, esse isolamento dentro da família acaba atenuando ou camuflando os conflitos de gerações: as pessoas não se encontram e, sem contato, não há briga. Por outro lado, esse isolamento dá mais liberdade aos jovens, que acabam retardando a saída de casa. Antes, para as pessoas se sentirem livres, tinham de sair de casa. Agora podem conseguir seu espaço dentro de casa.
O estudante de medicina Humberto José Horvath Marques diz ter um relacionamento “ótimo” com suas irmãs, que vê no máximo duas vezes por semana. “O problema são os horários escalonados. “Às vezes chego tarde e percebo que minha irmã está ouvindo som no quarto dela”, conta. O quarto de minha irmã é equipado com videocassete, TV, som e telefone.
Humberto volta da faculdade às 19 horas. “Esquento o prato que a minha mãe deixou no microondas, vou para o quarto assistir a “ Os Dinossauros” que deixo gravando de manhã. O bom desse esquema é que quando a família se reúne existe uma troca maior de carinho”, acredita. O seu pai, o administrador Lyondegar Marques, diz que essa independência é necessária para as “crianças”. Mas lamenta: “Às vezes tenho a impressão de que moramos em uma pensão.”
(Adaptado de Folha de S.Paulo,5.10.1996)

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