sexta-feira, 22 de julho de 2011

TELEVISÃO:RECONHECIMENTO e SOCIABILIDADE

Televisão: reconhecimento e sociabilidade

Maria Conceição Gomes de Melo

A Tv possibilita a leitura diária e constante dos fatos do cotidiano e é um meio que necessita ser problematizado como um elemento formador de pessoas, por isso deve ser absorvida criticamente

A escola deve refletir acerca da formação de jovens diante do uso das tecnologias, repensando a importância dos meios de comunicação, sobretudo da televisão, na vida da sociedade contemporânea, organizada cada vez mais em torno dos consumos simbólicos propostos pela mídia.
Dessa forma, a escola e os professores, na produção do currículo e na organização da prática pedagógica, devem levar em consideração que a Educação e a comunicação funcionam como um processo cada vez mais (inter) relacionado. Os estudantes estão se desenvolvendo em meio aos avanços tecnológicos e as mudanças socioculturais resultantes dos meios de comunicação de massa.
Estes jovens valorizam os conhecimentos e as informações que adquirem através da televisão e se organizam em comunidades de consumidores que se formam a partir do que propõe a mídia. De acordo com o doutor em filosofia Néstor Canclini, quanto mais jovem for a pessoa mais seu comportamento depende desses circuitos.
Canclini afirma que as novas identidades são construídas e socializadas a partir da lógica do consumo e, principalmente, do que propõe a televisão, ressaltando a importância da telenovela na vida das pessoas, já que estas narrativas colocam em jogo o “drama do reconhecimento”, aparecendo, assim, uma nova forma de sociabilidade.
O autor enfatiza que, durante muito tempo, os livros escolares, os museus, os rituais e discursos políticos foram os dispositivos com que se formulou a identidade de cada nação, consagrando sua retórica narrativa. Na primeira metade do século XX, o rádio e o cinema contribuíram para organizar os “relatos da identidade nacional” numa cultura visual de massa. Com a chegada da televisão, esta função se renova, estrutura-se o imaginário da modernização desenvolvimentista e mostra-se um outro modo de estabelecer identidades e construir a diferença.
A partir dessa época, as personagens dos filmes de tevê, principalmente das telenovelas, tornam-se ponto de referência para milhões de indivíduos, que podem nunca interagir, mas partilham a experiência comum de uma memória coletiva. O autor atribui este fato às mudanças econômicas, tecnológicas e culturais impostas pela globalização, associadas à capacidade de apropriação de bens de consumo e à maneira de usá-los, alterando as possibilidades e as novas formas de exercer a cidadania.
O doutor em filosofia questiona: ”por que a novela influencia tanto as pessoas?”. Para ele, nunca nenhum gênero recebeu tanto destaque entre os setores populares como o melodrama. O sucesso do folhetim televisivo fez aparecer outra forma de sociabilidade, em que as pessoas se identificam com as personagens da trama, muitas vezes por desconhecer seus direitos nos contratos sociais das grandes estruturas sociopolíticas.
Para a jornalista e mestra em educação Rosa Maria Bueno Fischer, a importância de discutir a televisão na escola é fundamental pelo seu alcance espetacular na divulgação de produtos que são consumidos por diferentes grupos de jovens que, muitas vezes, criam, através da imagem, valores considerados válidos pelos grupos de prestigio.
Aquele que é considerado o “diferente”, muitas vezes, é tratado de forma preconceituosa, como nas novelas de grande audiência nacional e nos programas de humor. Ali, a mulher aparece como objeto, se utilizando apenas da sensualidade para ganhar o reconhecimento dos homens, o homossexual masculino é sempre extravagante e afeminado, o idoso, o tolo e o gordo estão sempre em situação de deboche.
Dessa forma, reforço a necessidade de constantes debates na escola sobre os conhecimentos que são considerados válidos na tevê, quebrando o preconceito de que a televisão afasta o aluno dos livros. A televisão é um recurso que possibilita a leitura diária e constante dos fatos do cotidiano, é um meio que necessita ser problematizado como elemento formador das pessoas e, por isso mesmo, deve ser lido criticamente pelos jovens e telespectadores.
A verdadeira inclusão escolar, hoje, só será realmente concebida, a partir da melhoria do ensino público, na redefinição da prática pedagógica que estabeleça um currículo pautado na compreensão dos estudos culturais, capaz de compreender a juventude e sua cultura, os fundamentos da diversidade, da identidade e da diferença, para criar autonomia no sujeito e valorizar suas múltiplas dimensões.

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