terça-feira, 2 de novembro de 2010

LIVRES PARA LER / Reportagem da Revista ISTO É

LIVRES PARA LER
Estímulo à leitura incentiva a volta ao estudo e ajuda no resgate social de detentas

Monalisa Ferreira devora as his¬tórias do escritor americano Sidney Sheldon, mas, quando quer conforto para sua vida, se apoia nas Poesias completas do poeta portu¬guês Fernando Pessoa. Lucélia Silva lê qualquer tipo de romance, mas se emociona mesmo é com os da escri¬tora espírita Zíbia Gasparetto. Já Si¬mone dos Santos prefere biografias e revistas semanais porque gosta de fatos reais. Além da paixão pela leitu¬ra, estas três mulheres têm outra coisa em comum: estão presas. Elas moram atualmente na Penitenciária Feminina do Butantã, na Grande São Paulo, com outras 740 detentas em regime semia¬berto. A segunda característica com¬partilhada por elas é o crime cometido: tráfico de drogas. E, por fim, a última coincidência que envolve suas vidas é o projeto que frequentam na cadeia: o Leitura Ativa.
O objetivo é resgatar a cidadania ao desenvolver o senso crítico por meio de leituras, projeção de filmes e mú¬sicas. Todas as quintas-feiras, Silva e Peco se reúnem com as detentas na biblioteca da unidade. Vai quem quer, fica quem desejar e participa quem se interessar. Lá, não há notas, nem livro de frequência - o que conta no Lei¬tura Ativa é a liberdade expressão. Entre as estantes de livros e revistas cada uma pode dizer o que pensa sobre os textos apresentados. "Não tem certo e errado, é a opi¬nião delas que interessa", diz Silva. "Não tem o cunho acadê¬mico, não ternos a intenção de formar ninguém", explica.
Revoltada com a sua condição de pre¬sa, Lucélia passou a aceitar melhor o seu cotidiano atrás das grades depois que começou a partici¬par do grupo. "Aprendi a gostar de mim. Quando a gente é presa é tirada da sociedade como um lixo", diz ela, que voltou para a escola depois de frequentar o projeto. A diretora de educação, Cláudia Cândida e Silva, credita ao Projeto Leitura Ativa o aumento da busca pelos estudos for¬mais. "Ao lerem mais, percebem a importância de um diploma", diz Cláudia. Monalisa passou a sonhar com a faculdade depois que deixar a prisão, no fim deste ano. "Quero fazer psicologia e jornalismo, um desejo antigo." Monitora da biblioteca de 5.145 exemplares, Monalisa leu meta¬de dos livros do acervo. "A prateleira jurídica é a minha predileta, ali estão meus direitos", diz ela, que fez sozinha o pedido para O regime semiaberto. "A atitude delas perante a vida lá fora muda e a convivência aqui dentro melhora", afirma Gizelda Costa, dire¬tora-geral da penitenciária. É o primei¬ro passo em direção à liberdade.
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