domingo, 2 de maio de 2010

FUNDAMENTOS TEÓRICOS A CERCA DO CUIODADO

FUNDAMENTOS TEÓRICOS A CERCA DO CUIDADO

A Interpretação sociológica
Muitas das características oriundas das influências religiosas se traduzem em perspectivas sociais, tais como a questão de gênero, a questão econômica e a divisão de trabalho.
Para Collière (2003), as atividades de enfermagem continuam orientadas à tarefa, e não há uma preocupação, ou pelo menos não se tem feito observável, em tornar a natureza do cuidado relevante. Para a autora, até pouco antes de sua morte, em sua última publicação - Cuidar... a primeira arte da vida, as práticas que caracterizam o cuidar constituem-se em um trabalho invisível, realizado por mulheres invisíveis.
O cuidado, embora não tenha nascido, tampouco se desenvolvido apenas na esfera feminina, acabou se feminizando no decorrer dos séculos. Conforme Collière (1989), a Igreja cristã, ao permitir que mulheres se dedicassem ao cuidar, conferiu forte influência em sua natureza. Ao mesmo tempo em que foram solicitadas a prestar caridade e ministrar cuidados a doentes, infelizes e necessitados, foram também condenadas e caçadas como bruxas.
As características das mulheres, quanta à castidade, à nobreza de alma, à dedicação, à sua baixa auto-estima e à dependência, exerceram certa influência no desenvolvimento da Enfermagem e das atividades que privilegiavam o cuidado. Com o surgimento da Enfermagem institucional, irmãs de caridade e enfermeiras se submeteram ao modelo preconizado pela Medicina: elevada moral, pouco conhecimento, muito trabalho e obediência. Lopes (1986) apresenta uma listagem exemplificando as qualidades solicitadas que deviam ser demonstradas pelas enfermeiras. Era um trabalho invisível, servil, desconhecido socialmente, sem lucro.
A idéia de cuidadora nata, em função da maternidade e das atribuições domésticas, torna a mulher uma cuidadora "natural", porém isso dificulta sua conjugação como trabalho. Assim coloca Lopes (1986: 57) em relação a isso: "Para quem sempre se ocupou dos cuidados de saúde no domínio privado (doméstico), e 'natural' que conjugue todas as qualidades para assegurar a predominância no domínio profissional".
As mulheres seguem mais facilmente na Enfermagem do que os homens. Estes, mais frequentemente a utilizam como situação provisória, pois deixam a profissão, transferindo-se ou usando-a apenas como trampolim, segundo Lopes (1986), que os conduza a algo mais atrativo, mais "adequado" a sua condição masculina, mais lucrativo financeiramente e de maior status.















Há uma dominação, vivida de forma dupla pela Enfermagem, tanto como mulheres quanto como profissionais do cuidado em sua relação com o hospital e com a Medicina. O cuidado é predominantemente feminino na realidade hospitalar, não sendo visível apenas no serviço de enfermagem, mas também é visto nos setores de higienização, hotelaria, cozinha, assistência social, nutrição, serviços de secretaria, arquivo médico, entre outros. Os homens ocupam espaços na Medicina (embora já com número maior de mulheres) e nos serviços de cunho masculino, nos quais predomina a força e habilidades específicas, como manutenção, obras, engenharia, carpintaria, segurança e outros.
Um outro aspecto que se pode constatar é a seleção de tarefas no hospital, principalmente as de higienização e de assepsia hospitalar. Para Lopes (1986: 84), essa seleção "não se baseia no valor assistencial de tais tarefas ou na integralidade do ser assistido, mas em seu prestígio social enquanto ações de classe e de sexo". Assim, tarefas consideradas de menor valor (para a Enfermagem, mas não para o bem-estar do paciente), passam a serem delegadas. Enfermeiras se ocupam de atividades de maior prestígio, enquanto os auxiliares e técnicos de enfermagem se ocupam com as consideradas de menor prestígio, mas nem sempre de menor qualificação ou habilidade técnica. Cumpre também ressaltar que muitas dessas atividades "menos valorizadas" requerem um saber.
As práticas de enfermagem compõem, portanto, um conjunto de ações hierarquizadas que não se singularizam como atos autônomos. São atividades-meio de forma a viabilizar com sucesso o ato-fim do médico, ou seja, o tratamento. Dessa forma, "a legitimidade científica e o argumento 'naturalista', baseados nas diferenças de sexo, juntam-se para constituir os papéis atribuídos a uns e outros" (LOPES, 1986: 84).
O cuidar, ação da enfermagem, e o tratar, ação da Medicina, refletem uma hierarquia de poder e "representam a utilidade social legitimada e hierarquizada das 'diferenças' de sexo no campo da saúde" (LOPES, 1986: 86). Assim, as ações hierarquizadas no seio da própria Enfermagem legitimam a divisão de classes.
A criação contínua de especialidades e de tarefas origina a divisão de trabalho. Com isso, gera-se um conflito entre os trabalhadores reforçando a relação de dominação-submissão, já constatada anteriormente.
No tocante à questão econômica, deve ser destacado que a prática de cuidar, em geral não era costume remunerá-la. Ao se profissionalizar o cuidado através da Enfermagem, observa-se que, primeiramente, o trabalho das enfermeiras, ou de quem Fosse responsável pelo cuidado nas instituições de saúde, era bem lucrativo. Seu "treinamento" era realizado na instituição hospitalar, as estudantes cuidavam dos pacientes e, em troca, recebiam casa e comida. Posteriormente, a Enfermagem tornou-se, na visão dos administradores, uma mão de ¬obra, embora imprescindível, cara. Assim, procuraram fracionar o número de trabalhadores; as tarefas eram executadas de forma rotineira, mecânica, protocolarizadas; o cuidado sofreu em qualidade.
Com a industrialização, o advento da era denominada científica e, consequentemente, os avanços tecnológicos, as atividades da Enfermagem se aproximaram cada vez mais das atividades médicas, desempenhando técnicas e procedimentos que priorizam ou justificam a terapêutica. Dessa forma, o que se fazia na Enfermagem era denominado, e ainda é, "cuidados de enfermagem".
Em relação ao gênero, existe a colocação de que o cuidado e desvalorizado por ser desempenhado por mulheres; outra colocação é de que mulheres, por não encontrarem outro espaço, acabam escolhendo as atividades de cuidar, porque este lhes é concedido.

Um comentário:

  1. Texto muito bom que visa A INTERPRETAÇÂO SOCIOLÓGICA ,no contexto da Enfermagem.

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